Equipa com uma tradição muito particular no futebol português, a
Académica atingiu mais um número histórico no seu percurso pelo
principal escalão do futebol nacional. Os estudantes venceram o SC Braga
por
0x1 e atingiram a vitória 500 na primeira Liga.
Um número digno de realce e conseguido pela mão de Sérgio Conceição,
treinador que nasceu em Coimbra e que nasceu para o futebol na
Académica, embora nunca tenha feito parte da equipa sénior do clube.
Para já, além da Académica, apenas mais
oito clubes conseguiram
atingir a marca do meio milhar de vitórias na primeira Liga. Foram elas
o Benfica, FC Porto, Sporting, Belenenses, Vitória de Guimarães,
Vitória de Setúbal, SC Braga e Boavista.
1934/1935: Primeira vitória alcançada na primeira edição da Liga
Até ao início da temporada de
1934/1935 a principal prova futebolística no país era o
Campeonato de Portugal
(mais tarde viria a ser substituída pela Taça de Portugal), competição
que a Académica nunca venceu apesar de ter sido finalista na sua segunda
edição, em
1922/1923.
No entanto, 1934/1935 é uma época que marca a evolução no panorama
das competições portuguesas, pois pela primeira é disputado o campeonato
da primeira Liga num sistema de pontuação e composto por duas voltas.
A equipa da Académica que participou na primeira edição da Liga, em 1935
Foram
oito os participantes na primeira edição do campeonato da primeira Liga
e a Académica foi um deles, depois de ter garantido o apuramento na
final do
Campeonato de Coimbra
ao levar a melhor sobre o União de Coimbra, sendo que o encontro da
segunda mão da final, que terminou empatado a uma bola, teve a
particularidade de ser o primeiro a ter direito a transmissão
radiofónica em Portugal.
Sob o comando de
Rudolf Jeny
(o primeiro treinador estrangeiro da história da Académica e que
enquanto jogador quando representou o Sporting recusou-se a participar
numa final do Campeonato de Portugal por entender que não fazia sentido
um estrangeiro disputar um título que decidisse o título português) os
estudantes estrearam-se no campeonato com uma derrota em casa por
6x0 contra
o Sporting. De realçar ainda a presença do reitor da Universidade de
Coimbra no pelado do Campo de Santa Cruz para cumprimentar os jogadores
antes do jogo.
A primeira vitória, contudo, viria a surgir a 30 de março de 1935. No
Campo de Santa Cruz, os estudantes venceram o Académico do Porto por
2x1, com os golos a serem da autoria de
Alexandre Portugal e
Rui Cunha. Seria, de resto, o único triunfo da turma de Coimbra em toda a primeira edição da primeira Liga.
Nesse jogo, a Académica alinhou com o seguinte 11: Tibério Antunes,
Abreu, João Pascoal, Cristóvão, José Maria Antunes, Bordalo, Faustino
Duarte, Alexandre Portugal, Bernardo Pimenta, Isabelinha e Rui Cunha.
Curado, Mário Wilson e Melo participaram na vitória 100 da Académica
1952/1953: Vitória 100 alcançada em Braga
A temporada de
1952/1953
ficou marcada por divergências da Académica com a Federação Portuguesa
de Futebol (FPF) por causa da interdição do seu campo por quatro jogos
após a receção ao Benfica. Os estudantes perderam o encontro com os
encarnados por
3x1 e
os seus adeptos após o apito final agrediram o árbitro Reis Santos com
objetos atirados desde a bancada. Além disso, uma camioneta de adeptos
das águias foi apedrejada já fora do campo. Consequência disso, Benfica e
Académica cortaram relações e os estudantes foram sancionados pela FPF
com a interdição do Municipal de Coimbra por quatro jogos, que perante a
posterior defesa da briosa e com o consentimento do governo acabaria
por não acontecer, e uma multa de dois contos.
No entanto, a época também ficou para a história porque foi quando a
Académica atingiu a vitória 100 na primeira Liga. A chegada à centena de
vitórias no principal escalão do futebol português aconteceu a 2 de
novembro de 1952, com os estudantes a vencerem o SC Braga por
0x1 no Estádio 28 de Maio.
Bentes, aos 30 minutos, apontou o tento solitário da partida.
Sob a orientação do argentino
Oscar Tellechea,
a formação de Coimbra alinhou na cidade dos arcebispos com o seguinte
11: Manuel Capela, Curado, Melo, Eduardo Santos, Mário Wilson, Abreu,
Duarte, Rui Gil, Macedo, Pedro Azeredo e Bentes.
1958/1959: Maior goleada na primeira Liga
Cândido de Oliveira
treinou a Académica até à altura da sua morte, que aconteceu em junho
de 1958 quando se encontrava na Suécia a fazer a cobertura do Campeonato
do Mundo para o jornal
A Bola, periódico que fundou,
juntamente com Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo, após ter regressado a
Portugal desde Cabo Verde a 1 de janeiro de 1944.
János Biri foi o sucessor de Cândido de Oliveira na Académica, mas esteve pouco tempo no comando técnico
O
ex-jogador do Benfica, do Casa Pia e ex-internacional português que era
também jornalista, que trabalhava nos CTT e que viria a ser
selecionador nacional e treinador do Belenenses, Sporting, FC Porto,
Académica e dos brasileiros do Flamengo
esteve preso no campo de concentração do Tarrafal
após ter sido detido pela PIDE por ser o informador da Inglaterra e dos
países aliados sobre os movimentos alemães em Portugal durante a II
Guerra Mundial.
Ora, por ter falecido em junho de 1958, a temporada de
1958/1959
ficou marcada pela sua sucessão no comando técnico da Académica.
Cândido de Oliveira tinha revelado aos dirigentes da briosa que gostaria
que o brasileiro
Otto Bumbel
fosse um dia o seu sucessor nos estudantes. Os dois conheceram-se no
Brasil, durante um treino da seleção brasileira tendo em vista o
Campeonato do Mundo de 1950, e a amizade nasceu desde aí. De resto,
chegaram também a ser adversários em terras de Vera Cruz, quando o
português orientou o Flamengo, mas também em Portugal quando o
brasileiro orientou o Lusitano de Évora antes de se tornar treinador do
FC Porto.
No entanto, a escolha do clube de Coimbra acabou por ser
Janos Biri,
técnico húngaro mas com nacionalidade portuguesa que até então tinha
orientado o Lusitânia, Oriental, Vitória de Setúbal, Atlético, Vitória
de Guimarães, Estoril, Benfica e Académico do Porto. Contudo, os
resultados não foram os melhores e na tentativa de recuperar na tabela
classificativa, a direção da Académica decidiu prescindir dos serviços
de Janos Biri e contratar aquele que Cândido de Oliveira queria como seu
sucessor: Otto Bumbel.
Com o treinador brasileiro, a Académica garantiu a permanência e
alcançou aquela que é a sua maior goleada até hoje na primeira Liga e em
todas as competições nacionais. A 22 de março de 1959, em partida a
contar para a 26ª jornada, os estudantes receberam no Estádio Municipal
de Coimbra o Caldas e golearam por
11x0. Os golos foram da autoria de
Daniel Chipenda, que só à sua conta festejou por quatro vezes,
Duarte, que fez um
hat-trick,
Francisco Rocha, que bisou, e Miranda.
O 11 escalado por Otto Bumbel foi o seguinte: Cristóvão, Delfino,
Bento, Samuel, Marta, Mário Torres, Duarte, Daniel Chipenda, Miranda,
André e Rocha.
1963/1964: Vitória 200 diante do Belenenses
Equipa da Académica na época de 1963/1964, na qual conseguiu a vitória 200
Foi na segunda temporada de
José Maria Pedroto como treinador da Académica que os estudantes conseguiram chegar ao triunfo 200 no principal escalão do futebol português.
À oitava jornada, disputada a 8 de dezembro de 1963, a formação de
Coimbra recebeu no Estádio Municipal o Belenenses e venceu por
1x0, graças a um golo apontado por Torres aos 55 minutos, através da conversão de uma grande penalidade.
Nesse dia, a Académica jogou com o seguinte 11: Américo, Curado,
Manuel Castro, Vítor Campos, Torres, Piscas, Almeida, Manuel Duarte,
Francisco Rocha, Carlos Teixeira e Oliveira Duarte.
Nessa temporada, os estudantes iriam terminar o campeonato no nono
lugar, posição que afastou José Maria Pedroto do cargo, depois de na
época anterior apenas ter conseguido o décimo posto. Ainda assim, as
razões para a saída do técnico nunca ficaram totalmente esclarecidas.
Uns diziam que era porque o treinador não gostava das interferências da
direção no seu trabalho, outros argumentavam que Pedroto não permitia
que alguns jogadores colocassem os estudos em primeiro lugar,
querendo-os totalmente focados no futebol da Académica.
Para o seu lugar haveria de ser escolhido
Mário Wilson,
ex-capitão da Académica e que era adjunto de Pedroto. Ainda assim,
aquele a quem chamavam de «capitão» era considerado um discípulo de
Cândido de Oliveira, técnico com o qual havia trabalhado enquanto
jogador.
1971/1972: Vitória 300 no Estádio das Antas
A Académica acabara de perder dois dos seus melhores jogadores para o Benfica,
Artur Correia e
Rui Rodrigues,
que anteriormente tinha recusado três convites dos encarnados e outro
do Sporting por ter o compromisso de representar os estudantes até
terminar o seu curso superior na Faculdade de Farmácia.
Por isso, o pessimismo em volta da equipa era real e viria a
justificar-se no final da temporada, com os estudantes a serem
despromovidos ao segundo escalão pela segunda vez na sua história. Ainda
assim, foi na época de
1971/1972 que a briosa alcançou a vitória 300 na primeira Liga.
A 31 de outubro de 1971, em partida a contar para a sétima jornada, a Académica surpreendeu e venceu o FC Porto por
3x2 no Estádio das Antas, com os golos a serem da autoria de
Manuel António, que bisou e marcou o golo do triunfo aos 89 minutos, e de
Mário Campos.
Henrique Calisto orientou a Académica na vitória 400 ©Catarina Morais
Comandada por
Juca,
que viria a ser demitido do comando técnico antes da época terminar por
causa dos maus resultados, a Académica apresentou o seguinte 11 na
cidade invicta: João Melo, Brasfemes, Carlos Alhinho, José Freixo,
Araújo, Mário Campos, Gervásio, Vítor Campos, Vala, Oliveira Duarte e
Manuel António. Ao minuto 76, Gregório Freixo entrou para o lugar de
Oliveira Duarte.
1997/1998: Vitória 400 no Estádio do Bonfim
Foi apenas na última jornada que a Académica evitou a descida de divisão na época de
1997/1998.
José Romão, coadjuvado por
Porfírio Amorim,
foi o treinador que evitou a despromoção, mas mesmo assim acabaria por
deixar os estudantes após o término da temporada. Contudo, antes dele já
Henrique Calisto, que tinha substituído
Vítor Oliveira, tinha orientado a equipa.
Foi nessa época, porém, que a Académica conquistou o triunfo 400 na
primeira Liga. A 30 de novembro de 1997, os estudantes deslocaram-se ao
Estádio do Bonfim e venceram por
1x0, graças ao golo solitário apontado por
Miguel Vargas, já em período de compensação.
Orientados por Henrique Calisto, os estudantes apresentaram-se em
terras do Sado com o seguinte 11: Pedro Roma, Tó Sá, Aurélio, Rched
Mounir, Zé Nando, Rocha, Mickey, Gilberto Gaúcho, Dário, Pedro Lavoura e
João Tomás. No decorrer do jogo entraram ainda Rui Campos, Miguel
Vargas e Akwá para os lugares de Pedro Lavoura, Dário e João Tomás,
respetivamente.
2003/2004: Maior goleada fora de casa
Só na última jornada é que a Académica conseguiu garantir a permanência no principal escalão do futebol português.
João Carlos Pereira foi o treinador responsável por evitar a descida de divisão, depois de ter sido antecedido por
Artur Jorge e Vítor Oliveira.
Numa época marcada pela doença de João Moreno, presidente da
Académica na altura e que acabaria por falecer em outubro de 2004, e
pela saída do avançado carismático
Dário,
os estudantes tiveram bastantes dificuldades para continuar na primeira
Liga, algo conseguido graças à boa reta final de campeonato, na qual
conseguiu sete vitórias em 13 jogos.
Entre essas sete vitórias está a goleada de
5x0 no
Estádio do Restelo, a contar para a 23ª ronda da Liga. A 21 de
fevereiro de 2004 os estudantes conseguiram, assim, o resultado mais
folgado fora de portas no principal escalão, graças aos golos apontados
por
Tonel,
Paulo Sérgio,
Joeano,
Flávio Ribeiro e
Lucas.
Sob o comando de João Carlos Pereira, que se estreava como treinador
principal na primeira Liga, a Académica entrou em campo com Pedro Roma,
Tonel, Zé António, Nuno Luís, Fredy, Rodolfo, Paulo Adriano, Lucas,
Joeano, Paulo Sérgio e Flávio Ribeiro. Durante o jogo no Restelo
entraram ainda Tixier, Fábio Felício e Dionattan para os lugares de
Joeano, Paulo Sérgio e Paulo Adriano, respetivamente.
Fernando Alexandre foi o autor do golo que deu a vitória 500 à Académica ©Catarina Morais
2013/2014: Vitória 500 e fim do jejum de 46 anos sem ganhar em Braga
Foi na cidade onde conseguiu a vitória 100 na primeira Liga e na qual
não vencia desde 19 de fevereiro de 1967 que a Académica atingiu os
500 triunfos no principal escalão do futebol português
À entrada para a oitava jornada, os estudantes apenas tinham uma
vitória e ocupavam os lugares de despromoção. No entanto, sob o comando
de
Sérgio Conceição,
a turma de Coimbra deu uma lição aos bracarenses e colocou um ponto
final num jejum de 46 anos sem vencer na cidade dos arcebispos.
Fernando Alexandre,
jogador que já pertenceu aos quadros dos arsenalistas, foi o autor do
único golo do encontro, marcando de cabeça logo aos quatro minutos. Para
a história ficará também o 11 escalado por Conceição: Ricardo, Aníbal
Capela, João Real, Reiner Ferreira, Marcelo Goiano, Bruno China,
Cleyton, Fernando Alexandre, Liban Abdi, Diogo Valente e Rafael
Oliveira. Durante o jogo entraram Marinho, Manoel e Rafik Halliche para
os lugares de Diogo Valente, Rafael Oliveira e Bruno China,
respetivamente.